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Estação penúltima

Eles balançavam a cabeça de um lado a outro, reprovando e passando aquela insegurança, aquela arritmia, aquela toda negatividade de planos que eram para ser bons. Aquele exército do negro e de cabeças baixas, de tons de reprovação. Aquele exército que a inquietava e a afundava. Não era para se conformar. Não era para se aceitar. Mas dentro de si, algo incomodava. Não era fácil, não sabia se dizer porque. Ao menos parecia que o gritar interno era, ao extremo, e ligeiramente, maior. O egoísmo, porém, não era condizente com as falas alheias que buscavam ideais vazios. Tudo que era dito parecia vir de um sarcasmo e uma cobrança que a afundavam naquele mar a sua frente. Daquele mar sua escolha maior era o fundo, por cima das pedras mais profundas, mas que ainda a deixassem um olhar raso para a superfície de tanta água. A água era muita, mais soava como paladares de café do que como sabores de chá doce, era traduzida por muitos como aquilo que ecoa, não serenamente, nem em paz, mas dentro de limites de conformação: decepção. As ondas batiam, dissipando o sal contido e concentrado por sua pele excessivamente branca. O vestido, também branco, esvoaçava e se misturava com um duro de espelho, indo e voltando, como se, por um momento, estivesse sendo rebatido. Formava um balonê natural, colocado sem pregas, agulhas, ou linhas. Sentou-se na areia branca e sedosa. Sentou, abraçou os joelhos em um relaxar profundo e cheio de pesar. Cheio de lágrima e sumiço. O vazio era indiscritível. Não era mais vazio. Era vácuo. O vazio ainda pode ser colocado em palavras e em lágrimas, mas o vácuo não pode ser colocado em nada. Absolutamente nada de nada. Pois deve-se deixar a perna levar o corpo e não o corpo levar a perna. As pernas são sábias, deve-se ouvir aqueles que tem propriedade na razão e amor no que fazem. As pernas amam levar o corpo adiante, e por isso lutou com os braços e regulou a coluna. Pediu a coluna para que ficasse ereta e a deixasse conduzir tudo e todos. As pernas são boas, mas não sabem até hoje se era isso mesmo que os braços queriam. E Ele. Ele chegou logo ali. A colocou entre os braços. Ela se deixou recostar e sentir o espírito e o respirar de paz, de tranquilidade e serenidade; O sentimento próprio de conseguir ter alguma percepção, de beber uma xícara de chá. Sentiu o apoio logo atrás dela, sentiu esse apoio como um estímulo acetinado. Sentiu como asas que a amparassem e a impedissem de sumir. Ele a abraçou, em um ponto a que se é bom se abraçar…não muito, não pouco, simplesmente confortante. Ele a girou, de modo que ela também o abraçava e sentia seu corpo fresco e deixava o seu próprio ser dominado pela paz. A única paz. Tudo em volta se iluminava, esfumaceava e virava um tão belo passado, a cada instante angélico. Ele a abraçou e a levou para cima, diante de toda branquidão em volta, que povoava aquele ambiente e que foi testemunha maior de tudo aquilo. Ela respirou fundo. Eles subiram, e só subiram. Até o momento em que se perderam em algum fio de infinito. E o branco novamente amanheceu, naquele tom angélico que paira sobre as almas problemáticas esperando por uma resolução de paz.

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