Arquivo do mês: março 2013

O que não se quer evitar

É inevitável ter problemas. É inevitável passar por baixos. Dizem que é opcional sair deles. Não acho que seja tão opcional assim. Acredito mesmo naquela roda gigante que dá um empurrãozinho. É inevitável a reflexão. Ou os encontros do caos. O pensamento, e aquelas ideias que mesmo nada ideais, não te deixam a cabeça. Num momento, em geral, as coisas não vão bem. Momento da vida em que você acha que é hora de viver intensamente, sem se perguntar se você quer viver desse jeito. Se você está preparado para isso. Ou se isso é mesmo o que você precisa. De todo modo, precisando ou não, ou você acerta ou peca. No erro você aprende, mas o erro também traumatiza. Aquela dor de cabeça cortante percorre a alma todas as vezes depois dessa em que surge uma oportunidade. Por não estar bem, fez da deixa a pior forma de fugir dos seus problemas. E não quer repetir a dose. Não quer, não. Então pára e pensa, avalia os teores de maturidade, tão subjetivos. Acho que a questão é que a ficha não caí. Que quando se adapta a uma condição da qual não queria fazer parte, a alforria se torna simplesmente um sonho. Mas quando vai de sonho a realidade, é inacreditável. Tanto não acredita, que invariavelmente pensa que é mentira. Se convence de que é mais uma pegadinha e de que as coisas vão dar errado. Fica na defensiva e se apropria do próprio silêncio. No fundo tem suas próprias respostas, mas quando é que a gente pára e ouve as verdades de dentro? O maior fardo que se pode carregar na vida é se considerar escravo, seja lá de quê, e carregar lágrimas nos olhos mesmo quando se diz feliz. Ou se julga feliz. No fundo, aquilo que parece o erro nos chama. E você se despede, mesmo querendo andar de mãos dadas. Você não quer evitar. Mas evita. Não deve ser mesmo um erro. Porém, não bota fé. Nem sei porque chamam de erro aquilo que se aprende com. Sinto falta do espontâneo, e da minha própria espontaneidade. No mais, tento que as pessoas me entendam. Embora isso nem sempre se faça necessário. Só não quero evitar. Quero fugir das minhas próprias esquivas e assumir em alto e bom tom: é hora de cair no óbvio. É hora de não fazer do trauma do erro um novo erro.

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Tempos

Queria ser criança suficiente para me encolher tão pequena, que o joelho batesse para cima da testa. Tenho mania de me encolher quando penso. Logo, como penso demais, devo viver encolhida. Eu sei lá. O lugar em que eu mais me encolho é dentro de ônibus. Longas viagens de ônibus. É também onde eu costumo pensar, filosofar e decidir. Em uma mesma viagem eu mudo de opinião três ou quatro vezes, até decidir que prefiro a primeira. Ontem no ônibus tinha uma goteira em cima de mim. A água pingou e eu levei tempo a notar. Hoje o dia amanheceu cinza. Mas não tem problema, eu sempre achei que o dia cinza deixa o colorido bem mais bonito.

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Desabafo

Ontem foi um dia incrível. Não foi marcante a princípio. Deveria ter sido, mas não foi. Que de tanto a vida dar voltas eu a chamei para uma conversa, há uns tempos atrás. Lá naquele circo que ela armou. Ela logo viu que eu estava falando bem sério, sabe? Que já não tinha volta, eu estava bem decidida. Pois ela se muniu de tudo que podia carregar na bolsa. Colocou roupa, colocou falação, colocou acessório, câmera fotográfica e poesia. E foi. Chegou, sentou no picadeiro. No meio de tigre, elefante, leão e malabarista. Todos estavam pasmos. O que ela estaria fazendo ali? Eu até ri. Ri alto. Porque ela já foi logo tentando me explicar o porquê todos essas figuras estavam ali paradas, sem fazer nada. Porque ela deu tanta corda aos palhaços. Mas eu não queria ouvir. Longe eu de demitir a tal da Vida. Ela trabalha bem, mas tem uma personalidade peculiar. Acontece que eu estava cansada. Que ordem eu dei para ela tomar essas decisões por si? Que eu fiz? Não estava entendendo mais nada. Falei para ela que ok, tudo bem. Mal a mais não ia fazer. Pior não dava para ficar. Faltava tempo pouco, coisa e tal. E daí eu respirei fundo. Eu tava tão irritada, que perdi a paciência, falei aquelas coisas que a gente sempre fala mas nunca devia falar. Eu disse pra ela que cansei e que não esperava mais nada. Eu disse que não confiava nela, que tava perdendo todo o crédito, etecetera. Aí eu não sabia mais o que falar. Cheguei a ficar sem graça sabe…Dei de costas, subi a arquibancada, peguei um livro, sentei de canto e comecei a ler. Fazendo aquela coisa de sempre, mas dessa vez prometi não esperar. De verdade, tinha um saco de lixo enorme, daqueles bem grandes. Eu enfiei minha ansiedade lá dentro e fingi que nem vi. A única coisa que eu via era um grande hiato branco adiante. De todo modo (cheio ou vazio, não dava para dizer, porque ele era não transparente), não queria nem ver o que tinha dentro. Se era bom, se era ruim, meu único olhar eram para minhas músicas e próprias melodias internas. Bem internalizadas. Depender de quê, olhe lá… que nunca fui de depender de ninguém, diga lá das entranhas da Vida. Deixei tudo pronto, ia partir na próxima manhã. Mas aí. Só que aí. A cabeça esfriou. O pescoço doeu. Eu comecei a espiar a palhaçada. E quando os malabaristas viram que eu estava espiando, pronto, se deu o fuá armado. Eles avisaram o elefante, que chamou os cavalos, a girafa, o leão e o tigre. Os palhaços ficaram tímidos, e os macacos riam bastante deles. Observando aquela cena de fora, como se num corpo que não fosse meu, tive também vontade de rir. E da vontade de rir, quis entrar. Queria participar, ser parte daquele todo. E ao dar o passo entrei na dança, dancei a noite toda. Nem queria dormir. Nem queria sair. Nem dar as contas à Vida. Então pisquei. E entrei em pânico, já que ela tinha sumido dali. Para onde tinha ido, quando eu enfim estava para agradece-la? quando eu estava para dizer que entendi aquele desentendimento? Só digo que sumiu. Continuei indo ao circo, feliz da vida. Aprendi a gostar do circo da minha vida. E aí ontem eu cheguei em casa. Na porta da geladeira tinha um bilhete que dizia: “Brincadeiras a parte, aprendeu a gostar, já sei e já tenho notícias. Gosta muito, até, não é? E já que mágoas não guardo, resolvi esvairar, engoli o que você disse, viajei e voltei. Novidades a pesar, quer saber então, o quê? Vamos embora agora…longe do tal do circo, para onde você sempre quis estar. Faça suas malas, o destino vai se segurar até você chegar. E não se esqueça: bondade também se aprende, minha cara”. Estou longe de entender o que eu quero agora. Malemá quem manda em quem. Eu só sei que a danada ainda terminou a mensagem.

Com amor,

Vida

 

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Ciranda de amor

Acho que já passamos todos daquela fase em que acreditamos nos porquês subentendidos de certos relacionamentos não funcionarem da maneira que todos gostariam. Afinal, eles eram perfeitos um para o outro. Eles eram um casal tão lindo. Mas ela gostava dos contos de fada e esperava dele um príncipe. Eles assistiam a Disney. Mas depois de um tempo, ela queria ser a Branca de Neve e ele queria ser o Rambo, bem livre da vida. Ela esperava um príncipe encantado, e ele esperava qualquer coisa da vida, no meio disso, muitas coisas dela. Acho que tudo isso virou simplista. Continua sendo simples, mas de uma forma diferente. Um esperava de um lado, o outro do outro. Uns falavam, conversavam, cobravam. Outros quietavam, frustravam. De todo modo, um sofria de um lado, de outro. O segundo ficava à espreita, mas sofrendo também. De tanto sofrer, um dia aí, que não colocaram data,  alguém, que também não se sabe quem, resolveu colocar ordem no negócio: dali para frente, chega de compromissos. Daquele início de adultez já se esperavam compromissos demais, esse de sofrimento não precisava constar no currículo. A princípio parecia ótimo: quantidade, julgamento, qualidade, talvez… Depois, ele queria, mas não era a ordem. Ela queria, mas era para dizer que não. Os dois queriam, mas fingiam que não queriam por nada do mundo. Ele morria de vontade de falar com ela, e não falava. E quando ela questionava, ele dizia que não falava porque não queria e não pelos tais joguinhos. Ela repetia o repeteco. Criou-se a era dos jogos. Ao fim, os que assumiam os sentimentos viravam pisados, expostos e bobos da corte. Do medo de sofrer veio o orgulho para se proteger. Em que era melhor terminar para não viver o medo que nem sabe de onde… no fim era sempre mais sofrido. Ainda é mais sofrido. Da ansiedade de sofrimento veio a Hipocrisia. A culpa não é dos contos de fada. A culpa é das pessoas. E das opções do todo. Quem é do todo não há de tentar ser individual, já que o início já pressupõe esse seu ser hipócrita. Inclusive eu. Inclusive você. Todos. A essência hipócrita, que veio da covardia e da frouxidão de outrora se traduz em um Amor que se encerra na definição. O amor que termina em si é o amor Mentiroso. Não é fácil lidar com mentirosos. Chega a ser insuportável, para ambas as partes. Mentir para se prevenir não é Omitir. É ser mentiroso. O amor então deixa de ser palpável, deixa de ser bonito, deixa de ser sentido. Ele vira sofrimento, e a ciranda nos leva ao mesmo ponto do qual tentávamos fugir a princípio: ao sofrimento. E dessa vez, muito pior. Ao que o homem resolveu colocar o dedo, ainda que culturalmente falando, a reposta para tudo é: só lamenta-se. A partir do momento em que a paz vira vazio, tudo perde o sentido. Amor? Vá para Roma, beba um vinho e fique em paz.

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Baile de Máscaras

Hoje vou dormir com todas as luzes apagadas. Hoje, se pudesse, apagaria até o luar, já que meu medo não é mais de escuro. É medo das pessoas. É medo de gente, de decepção. O perdão vem e a decepção não vai. Não paro de pensar de que os dois deveriam ir em um mesmo trem, de mesmo sentido. De que as coisas e todo o sentimentalismo andariam bem, obrigada. Desde que dessa forma. Mas não, são duas coisas as quais insistem em andar em tempos complexos. E separados. Não há paralelismo, além daquele que se estabelece quando são criadas juntas. O fato é o que sinto hoje. Leva-se tempo para confiar. Inclusive para botar fé nas verdades que a vida te mostra constantemente e exemplifica a todo momento. A granja de monstros em volta, de todos os tipos. Objetos monstros, lugares monstros, pessoas monstros. Máscaras monstros. A verdade é que decepção, frustração, não se sana com perdão. Aquela imagem permanece na cabeça, desejando que nada daquilo tivesse acontecido. O quadro se assemelha a um Monet, de traços distorcidos, mas faz todo o sentido. Tem o momento do insight. São os monstros de máscaras, que te enganam até certo ponto. Só até certo ponto. E a bebida entra, a verdade saí, passa dia, passa noite, e os amargurados continuam no direito de passar por cima de todos. Porque são amargurados. E vão continuar sendo, embora muito brevemente tenham a sensação de que estão no topo do mundo. É o fado e o conforto. O único conforto de uma vida vazia e pacata. Argumentam: qual pacatez? Sempre melhor. Frustrados. Monstros de máscara. Amizade, qual é essa? De costas está. Descaradamente de costas. Não se deixa acreditar. Te faz chorar. Te dá um tapa, te cospe a cara e te expõe. Confunde intimidade e liberdade. Por fim sobem ao pódio, se fazem de ouro e todos sabem, no fundo, da farsa. Ele sabe da própria farsa. Então segura esse troféu, doce e lentamente, que troféu melhor para você não há. E tenha certeza de que leva essa máscara presa ao rosto. Para sempre. Não há dúvidas que as portas se encarregam desse medo escancarado. Mas dessa vez, em paz. Na distância e em paz.

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