Arquivo do mês: setembro 2013

E agora o amanhã, cadê?

Tenho um amigo de quem sempre tenho saudade. Dele e de mim. E de como sei ser eu quando estou com ele, sem medo de ser feliz. Ás vezes me bate uma época de falar de futilidades, de viver a vida a fundo, de esquecer do mundo. E de mim. Vivem repetindo por aí que só se dá valor quando perde, e hoje tudo que eu sei é que precisamos de cuidado para não nos perdermos da gente. Essa perda vem, irremediavelmente, cheia de sequelas. Quando se é tempo de recuperar, porém, os remédios chegam de modo prazeroso e pleno. Recuperamos a consciência e prometemos não entrar de novo no buraco negro, ao menor e maior espanto, lá estamos de novo, a aguardar na guia, sem sinal, sem fim. Meu conselho, amigo, é não buscar a felicidade, ou a solução. Não opte pelo indolor, ou por tudo que passa indiferente pelos olhos. Vá, sofra, e entre a fundo na busca certa. Vá te buscar que já é tempo, e eu também vou indo.

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Doce de vida

Pulei na cama fofa e caí sentada. Joguei meus morangos para o alto e fiz deles uma chuva bonita. Depois soltei os confetes, jujubas, chocolates e suspiros. Suspiro. Por um momento me vi cansada só por estar ali. E então resolvi desaparecer em um lapso de tempo, enquanto posso usar o “por enquanto”. Não é hora de decidir, é hora de deitar e esperar passar. Me obriguei a aceitar que as vezes a única solução é esperar que ela chegue na sua cabeça, bata na porta e devolva tudo o que você jogou para o alto e estava esperando voltar multiplicado. Sendo assim, estou a esperar uma vida carregada de momentos dóceis.

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O plural do Adeus

Bati o dedinho na quina. Doeu como o quê. Cortou. Te pedi um esparadrapo, estanquei o sangue e colei. Bem ali em cima do corte, foi de pronto: colei. Já não tinha dor. Já não tinha você. Nem tinha como sentir saudade do que não era meu. Jeito um ou outro, sempre estará para dentro de alguma forma. E então sorri, abanei a mão e disse adeus. 

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As flores de Setembro

Eu passava ali, naquele corredor de esperança, todos os dias. Involuntariamente, por ser parte do caminho, embora pense que se não fosse, forçaria a passar. As flores choviam da árvore, e elas eram brancas. Deixavam vestígios cor de neve no asfalto marrom sem vida. Elas estavam ali caídas, e apesar de não terem suas próprias vidas consigo, davam vida a tudo ao redor. Então pensei que vida não depende de vida. Dar vida a algo ou alguém não depende do seu viver. Do seu estado de espírito. Afinal, ali estava a prova, as flores mortas embelezando todo mundo em volta. Todos com seus respectivos olhares fixados em trajetos até o trabalho as sete da manhã, ou imaginando suas casas às seis da tarde. Tudo aconteceu de tal modo que ninguém parecia prestar muita atenção naquilo. E eu? Eu que prometia todos os dias parar ali para tirar uma foto da cena. Elas estavam mortas. Elas mereciam algum prestígio, o qual não recebiam de almas pairadas da vizinhança. Só que hoje passei ali de novo. E não tinham mais flores no chão, muito menos na árvore. Ela estava seca e morta. Bonita ainda assim, mas uma beleza bem menos esperançosa e mais peculiar. Aquela beleza que a gente precisa olhar de perto e observar como um todo para poder notar, sabe? Foi então todo o meu caminho percorrido acompanhado de filosofias vãs. Nada nos espera. A vida não espera. A fotografia não espera você ter tempo. As pessoas não esperam. E pelo visto, tão pouco a morte ou as flores mortas. Tenho de certa, porém, que nascerão novas flores. Pelo ciclo, estariam ali em algum momento, a embelezar certa fatia de vida. Mas do erro passado, devo mentalizar de que elas não vão me esperar. Hoje quando passei, só tinham no asfalto galhos secos e duas pombas. E eu me dei conta de que não era nada disso que eu queria. Eram só as flores que deixei passar.

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Nas nuvens

E que sentada na grama, esperei não ter insetos em volta. Nem borboleta. Não é porque é bonita que deveria estar ali. E que olhando para o céu decidi que não sei se quero lidar com o orgulho das pessoas. Tenho dúvidas sobre querer sentir qualquer coisa. Não sei o quanto quero gente que não valoriza a própria terra perto de mim. Nem sei se sinto. Se volto a sentir ou me deixo ir embora, muito embora, assim, contudo, seja um caminho sem volta. Então pensei por um instante que só queria uma jabuticaba, o sol e a grama. E aí dei de costas para os meus pensamentos. As vezes nós não devemos mesmo dar tanta atenção a eles.

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A queda

Por medo, faço prece. De medo, não me jogo. Dói. Pedi para o coração aquietar e parar de bater um pouquinho. Hoje cansei do medo e só espero cair em um caminhão de morango com chocolate, porque de resto, tanto faz. A queda também depende do referencial.

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E aí

Daquela que acredita que quando não se sabe o que fazer, se faz torta de morango com chocolate para comer no prato riscado, sentada na varanda e o sol dando tchau, só para variar. Por sinal, eu aceno de volta. 

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Cotidianos

O coração batendo forte dá saudade de sentar, apoiar o queixo no vidro da mesa, sorrir com os olhos, usando um moletom cinza de bolinhas amarelas, tiara cor-de-rosa e uma xícara de café. Ser consonante da vida, e consoante por desejar a inércia de repouso. Tudo isso esperando um pão com manteiga tostado que você não fez.

 

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Carta para você

Prezado,

Eu deixo o celular no silencioso. Eu deixo ele virado para baixo. Aquela luz piscando me faz olhar, e eles estão me procurando. Eu tenho saudades de um tempo o qual eu não vivi, em que você podia sumir no mundo sem peso na consciência. Hoje não dá. Ou quase. Porque se você vai até a esquina o aparelho começa a piscar. Se você não vê ou não quer falar, é tido como falta de consideração. Caso responda com pressa também é. Se deixa em casa, por um acaso, ou a bateria acaba, é o fim do mundo. Se tornou cada vez mais inadmissível ficar sozinho. As pessoas não te deixam sozinho com seus pensamentos, e nem você as deixa. Aliás, ouso em dizer que querer estar sozinho é motivo de condenação. Não responder por meras horas é sinônimo de ter sido sequestrado. De não ligar. De não gostar e não amar. Você é julgado e, sim, condenado. Porque ao responder recebe um gelo inexplicável de volta. E sem entender (nem querendo entender) a dinâmica dos móveis, no auge de uma revolta contida, eu deixo ele de lado. Eu peço que entendam. Eu ignoro a rebelião. Peço com força e em um respirar ríspido, que voltem as cartas. E que a solidão não é pecado, ela faz parte.

Atenciosamente,

ou

Com amor,

.

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O cachorro

Me incomodava, irritava e assustava toda vez que, chegando atrasada, passava por aquele trecho de calçada. Ele latia e me assustava. Invariavelmente eu assustava, sim, pulava e arrancava alguns pares de risos de quem passava por ali as sete e pouco da manhã. Por muito tempo teimei em ali passar, até que do dia para noite resolvi evitar. A contra gosto. Passava e fazia cara feia para o cachorro. Mas então me lembrei que certa vez resolvi batizar uma lombada perto de casa com meu nome. E toda vez que passo ali, a tenho como minha. Qual era o meu direito de julgar a posse dele? Se ele queria a calçada, a calçada seria dele e ponto. Sem questionar, diariamente atravesso a rua naquele ponto de vida. Atravesso silenciosamente. E quando estou com alguém, faço com que a pessoa atravesse junto. E eu explico, a calçada é dele. Ao maior esforço de entender, tem hora que a ficha caí. É dele, e sem maiores explicações. Respeitei. Ele nunca mais latiu. Eu nunca mais questionei. Nos encaramos em um silêncio respeitador, mas ele não late e minha vida continua, sem sustos. Hoje eu passei e ele não estava lá. Nem ontem. Da amizade silenciosa espero que ele esteja bem, e só isso. Não posso esperar de ninguém estar lá para sempre, muito menos do dono da calçada. Mas posso pedir ao universo que essa calçada seja toda e para sempre dele.

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